terça-feira, 9 de março de 2010

Apenas uma flor



Bar Plaza

Se há um sítio em Ponteareas onde se pode compreender qual a massa humana de que se compõem esta pequena vila é o Bar La Plaza, aí nas mais variadas horas do dia vai passando personagens que por certo dariam uma história.
Trabalhadores apresados pela manha, emigrantes que todos os anos deixam os locais onde trabalham no duro para depois num só mês viverem um sonho de prosperidade, que não passa senão de uma imagem para quem os revê furtivamente, casais a quem a paixão que os fez caminhar ate ao altar já morreu há muito, deixando apenas uma preguiçosa forma de estar na vida, onde nem muitas vezes um sorriso de cumplicidade e amigo se lembra de aflorar aos seu rostos sem alma.

Eu todos os dia ali me detenho frente a um jornal em que me põe ao dia sobre as noticias do dia e da região, direi que estou adicta àquele cortado, o melhor de Galiza como diz a minha amiga Sol e um pão com manteiga que me ajuda a descomprimir e a iniciar o dia com mais força.
Ali o Sr Eduardo, profissional da arte e simpatia q. b. me faz sentir que sou bem-vinda e me deixa com um “que aprobeche” amável, deixando que por fim me embrenhe nas noticias.

Procuro sempre sitio numa mesa de canto, onde possa dominar ambiente para que possa observar com atenção quem me rodeia,

Pais com crianças ruidosas, que quebram o silencio e a paz do recinto, mas que no fundo são a alma dos pais e da sociedade que eu quero integrar, ao meu lado um senhor lê em voz alta o jornal num tom monocórdico imperceptível, mas irritante.

Mas de todos os personagens que integram esta cena diária, há uma que me desperta a curiosidade pela sua forma de agir.
Aí pelas 11:30 da manha entra uma senhora que se podia dizia, completamente autómato, trás na mão uma carteira e veste uma bata azul de flores que diria tirada de um baú onde os” recuerdos” insistem a não desaparecer.
O seu rosto não denota qualquer sentimento.não há sorriso e os seus olhos olham vagos para o infinito.

Mas o que me faz reparar nela tentar perscrutar no seu rosto um laivo de sensibilidade? Todos os dias esta personagem trás nas mãos 2 flores, viçosas, como que tentando dar á sua alma um pouco de alegria e dizer lhe que esta viva.
Quem lhe dará a s flores, será que por ausência de quem a ame ela tenta diariamente que essas flores lhe dêem a alegria que os seus olhos recusam ter? Será que elas são o seu apego á vida? Será que ingenuamente ela sente que a mão invisível que as colheu é a mão que nos seus sonhos a acariciam e sussurram que merece a pena viver, ver o sol e entrar no bulício do café, pois assim sentirá que existe e que a voz simpática do Sr. Eduardo a traz a um mundo que por certo lhe é hostil, mas que lhe faz sentir que esta viva e que por essas flores que lhe embelezam as mãos merece a pena erguer o corpo, incorporar a alma e se bem que os seus olhos não tenham brilho e o rosto um sorriso vale apenas estar ali, pelo menos eu dei por ela eu dou-lhe o sorriso igual á beleza das flores que insistem em trazer para o jardim da sua vida

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